terça-feira, 18 de novembro de 2014

Sombra

A sombra é um dos principais conceitos da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung.
Ela é o lado obscuro, o lado oculto e sombrio da nossa personalidade. Segundo Jung, ela abriga instintos animais que herdamos das espécies primitivas ao longo das eras. Acolhe as ideias, desejos, tendências, memórias e experiências reprimidas ou ocultadas por serem incompatíveis com os padrões sociais ou com padrões que impomos a nós mesmos. Ela contém o que consideramos inferior, aquilo que negligenciamos e aquilo que queremos ocultar ou negar.
 
Conheci o conceito da sombra bem antes de iniciar o curso de Psicologia. Durante minha graduação estudei um pouco sobre a sombra e através das leituras e workshops de Debbie Ford, que estudou Carl G. Jung profundamente, tenho me aprofundado neste conceito.
 
Tenho aprendido e reconhecido a importância de conhecer, acolher e iluminar nosso lado sombra.
 
Jung disse: "Aquilo que não fazemos aflorar à consciência aparece em nossas vidas como destino".
 
Quantos fatos sobre nós, aceitamos como "destino", eu sou assim, não tem jeito,....?
 
Tentamos negar nossa sombra, pois a vemos como algo terrível.
 
Como Psicóloga, estudante do comportamento humano e na minha própria trajetória em busca do autoconhecimento percebo a atuação da sombra, seus efeitos e como muitas vezes não conseguimos valorizar e nem ao menos enxergar nossas qualidades e talentos, pois estamos lutando para negar aspectos indesejados em nós. Estamos lutando para não ser aquilo que está contido em nossa sombra.
 
Foi a partir disso que percebi a importância deste processo de conhecimento, acolhimento e iluminação da sombra no caminho da transformação.
 
O trabalho que Debbie Ford fez durante grande parte de sua vida no sentido de ensinar as pessoas a conhecer, acolher e iluminar essa parte presente em todos nós é um processo de extrema importância para integrar uma parte nossa que guarda tesouros importantíssimos e atingir a totalidade do nosso ser.
 
Bill Spinoza disse: "Aquilo com que você não consegue coexistir não o deixará existir".
 
É importante trazer à consciência essa parte nossa para que possamos trilhar um caminho mais autêntico.
 
Connie Zweig disse: "Cada um de nós contém um Dr.Jekyll e um Mr.Hyde: uma persona agradável para uso cotidiano e um eu oculto e noturnal que permanece amordaçado a maior parte do tempo. Emoções e comportamentos negativos - raiva, inveja, vergonha, falsidade, ressentimento, lascívia, cobiça e tendências suicidas  - ficam escondidas logo abaixo da superfície, mascaradas pelo nosso eu mais apropriado às conveniências. Em seu conjunto, são conhecidos na Psicologia como a sombra pessoal, que continua a ser um território indomado e inexplorado para a maioria de nós".
 
Explorar esse território, iluminar nosso lado sombra e acolher nossa totalidade é responsabilidade única de cada um.
 
A sombra tem um papel importante na busca pela Luz, pois quando mergulhamos fundo em nossos aspectos mais assustadores, retornamos trazendo à tona as nossas qualidades.
 
Debbie Ford sugere que prestemos atenção aos nossos próprios sermões. Projetar nos outros nossas dificuldades é julgar e condenar aquilo que não gostamos em nós mesmos. O sermão na verdade vale para aquele aspecto que nós mesmos estamos ocultando.
 
O mundo é um grande espelho e através dele podemos ver nossos comportamentos e atitudes. Enquanto não assimilarmos e aceitarmos o nosso lado sombrio, ele nos espreitará. Quando entendemos que ele faz parte de ser humano e aceitamos esses aspectos como parte integrante do ser, rompemos as correntes que amarram a nossa felicidade.
 
 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Elogiar

Tive uma professora muito querida na faculdade que disse em uma aula algo que ficou gravado na minha memória. Ela falou que quando um professor enfatiza muito o comportamento “negativo” de um aluno, dizendo coisas do tipo: “Ah, fulano não tem jeito....Esse aí só procura encrenca, não quer saber de estudar, etc....”, isto acaba reforçando naquele aluno essas características e comportamento; fazendo, muitas vezes, ele tomar aquilo como verdade absoluta sobre ele.

Acontece o mesmo com os filhos, quando os pais enfatizam apenas as coisas “negativas”.
Ela dizia que é importante enfatizar as coisas boas; não ficar trazendo à tona as coisas “ruins”. Isto, obviamente, não quer dizer não corrigir ou ensinar, ou ainda, não apontar algo  que a pessoa precisa desenvolver para crescer e melhorar. Quer dizer, simplesmente, não dar ênfase às características e comportamentos “ruins”. É importante reforçar aquilo que a pessoa tem de bom, trazer à tona suas potencialidades e qualidades. Com o tempo isso construirá uma imagem mais positiva e fortalecida na pessoa e o comportamento “ruim” automaticamente tende a diminuir. A pessoa começa a gostar de ser elogiada e, por escolha própria, passa a dar mais ênfase ao comportamento positivo.
Quando enxergamos nossas qualidades e potencialidades abrimos espaço para uma nova forma de nos enxergar, querendo buscar cada vez mais isso dentro de nós, pois é algo que nos impulsiona a crescer, a nos desenvolver e sermos melhores.
Enfatizar coisas “negativas” faz a pessoa “murchar”.
No filme “Como estrelas na terra - toda criança é especial” há um professor que conta para os pais de Ishaan, uma criança muito talentosa e que tem dislexia, a história das ilhas de Salomão. Ele diz que nessa ilha quando os nativos querem parte da floresta para agricultura eles não cortam as árvores. Eles simplesmente se juntam ao redor delas, gritam xingamentos e dizem coisas ruins. Em alguns dias a árvore seca e morre. Ela morre sozinha.
As palavras têm esse impacto.
Elogiar, trazer à tona as coisas boas, qualidades e potencialidades é como regar um planta e aguardar para ver seu lindo florescer.
Façamos isso com nós mesmos e com os outros para que, juntos, possamos desfrutar desta gostosa e agradável paisagem.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Autoconhecimento

A caminhada do autoconhecimento é feita em uma estrada em constante expansão e desenvolvimento. Pegamos a estrada e não sabemos o percurso que faremos. Ele vai sendo conhecido, construído e modificado durante a caminhada. Isto acontece aos poucos com paciência, respeito, acolhimento e muito amor.

Sempre tive grande interesse por temas que envolvam o comportamento humano.
Ainda muito jovem me perguntava por que algumas pessoas reagiam de formas tão diferentes frente a uma mesma situação ou por que tinham opiniões e pontos de vistas tão distintos. A busca por esta resposta me fez trilhar muitos caminhos para conhecer e aprender sobre o comportamento humano.
É incrível saber que todos nascemos como seres únicos. Essa singularidade é característica genética do nosso DNA. Nossa composição genética exata nunca ocorreu antes nem se repetirá jamais.
Isto quer dizer que temos características únicas e próprias; desejos e inclinações que são exclusivamente nossos. Como se fossem nossa marca registrada.

Em seu livro “Maestria” Robert Greene diz que essa singularidade se expressa pela primeira vez na infância, por meio de certas inclinações primordiais. Ele explica que essas inclinações são forças dentro de nós que vêm de um lugar profundo, incapaz de ser descrito por palavras conscientes. Elas nos atraem para certas experiências e nos afastam de outras. À medida que essas forças nos movimentam para lá e para cá, influenciam o desenvolvimento de nossa mente de maneira muito específica. O autor diz que essa singularidade profunda quer se afirmar e expressar naturalmente.

Conforme nos afastamos de nossas inclinações, vamos nos afastando do nosso Ser e aos poucos vamos deixando de cumprir a nossa missão de vida, que é Ser quem somos.

Ainda citando Robert Greene em seu livro “Maestria”, ele exemplifica o que eu disse acima com uma linda metáfora em que diz: “ao nascermos, planta-se uma semente em nosso interior. Essa semente é nossa singularidade. Ela quer crescer, transformar-se, florescer em todo o seu potencial, movida por uma energia assertiva natural. A sua Missão de Vida é cultivar essa semente até o pleno florescimento, é expressar sua singularidade”.

 
Quantas pessoas maravilhosas, talentosas e brilhantes, cada uma em sua singularidade, estão escondidas? Quanto elas poderiam contribuir para o mundo vivendo a alegria de experimentar e viver a verdade do seu Ser? Sua singularidade?
A busca pelo autoconhecimento é a busca por conhecer esse Ser único que por diversos motivos escondemos, usando muitas máscaras e vestindo muitos papéis.

Através do autoconhecimento e da expansão da consciência podemos vivenciar este processo lindo e viver uma vida mais autêntica.