domingo, 17 de fevereiro de 2013

Relacionamento a dois


A teoria muitas vezes é bem mais fácil que a prática.
Não importa quantos livros leiamos sobre o amor e sobre a relação a dois. Não importa o quanto nos preparemos para o amor ou por quanto tempo fiquemos fugindo dele; quando decidimos nos entregar para um relacionamento muitas coisas ocorrem e é exigido de nós muita coragem.

Em seu livro Mulheres que Correm com os Lobos, Clarissa Pinkola Estés diz que “O amor tem seu custo. Ele exige coragem”.
Quando somos jovens e ouvimos as pessoas falando sobre relacionamento logo nos apressamos a dizer “Ah não, isso não acontecerá comigo. Eu farei diferente”.

Lemos coisas, participamos de cursos, palestras e treinamentos sobre relacionamento a dois, namoramos, conhecemos pessoas e achamos que sabemos exatamente o que é conviver a dois.
Lembro-me que na faculdade de psicologia apresentei um trabalho sobre psicanálise de casal e alguns do grupo compartilharam um sentimento de que apesar de ser algo bem mais profundo do que havíamos imaginado, estávamos um pouco mais sábios sobre o assunto.

Tudo o que aprendemos antes de conviver a dois pode ser bem utilizado durante o relacionamento, mas nada se compara ao desafio da convivência. As menores coisas ganham um grande significado, feridas antigas reaparecem, e permanecer juntos e com alegria passa a ser uma meta que exigirá mais que amor.
Particularmente acredito no amor e no relacionamento a dois. Penso que através deles temos a oportunidade de crescer enquanto pessoas e também de vivermos a nossa individuação de uma forma singular.

No capítulo 5 do livro Mulheres que correm com os lobos a autora conta a estória da Mulher Esqueleto. Esta é certamente uma estória muito interessante que faz uma analogia inteligente sobre a natureza de vida-morte-vida do amor.
Em poucas palavras, este termo vida-morte-vida fala, também, sobre resiliência, sobre ser capaz de encarar que em um relacionamento a dois as coisas nascem, morrem e renascem de uma forma diferente e este processo pode causar dor. É a dinâmica da vida. Para que as relações mantenham-se saudáveis e coisas novas aconteçam outras precisam morrer para transformarem-se.

A autora diz:
“O amor não significa um flerte ou uma procura de mero prazer para o ego, mas um vínculo visível composto da força psíquica da resistência, uma união que prevalece na fartura e na austeridade, que passa pelos dias e noites mais simples e mais complicados”.

“Existem, porém, exigências para esse tipo de união. A fim de criar esse amor duradouro, convida-se mais um parceiro para a união. Esse terceiro é a Mulher-Esqueleto. Ela é também chamada de A Morte e, nesse sentido, ela é a natureza da vida-morte-vida num dos seus muitos disfarces. Nessa sua apresentação, A Morte não é um mal, mas uma divindade”.

A convivência a dois é um desafio, é algo grande, algo que exigirá de cada um dos parceiros aprendizagem, vontade, coragem e outras coisas mais.
Mas ainda assim é algo maravilhoso. Algo que nos convida a nos conhecer, nos modificar e encarar a parte mais profunda do nosso ser, que guarda a escuridão que amedronta mas também nossa fonte de luz mais radiante.

Termino com outro trecho do livro Mulheres que correm com os lobos:
 “Às vezes não existem palavras que estimulem a coragem. Às vezes é preciso simplesmente mergulhar. Tem de haver em algum ponto da vida de um homem um período em que ele confie na direção que o amor o levar, em que ele tenha mais medo de ficar confinado a algum leito rachado do rio seco da psique do que de estar solto num território exuberante porém inexplorado”.
 
"Às vezes aquele que está fugindo da natureza da vida-morte-vida insiste em pensar que o amor é apenas uma dádiva. No entanto, o amor em sua plenitude é uma série de mortes e de renascimentos. Deixamos uma fase, um aspecto do amor, e entramos em outra. A paixão morre e volta. A dor é espantada para longe e vem à tona mais adiante. Amar significa abraçar e ao mesmo tempo suportar inúmeros finais e inúmeros recomeços - todos no mesmo relacionamento".