A teoria muitas vezes é
bem mais fácil que a prática.
Não importa quantos livros
leiamos sobre o amor e sobre a relação a dois. Não importa o quanto nos
preparemos para o amor ou por quanto tempo fiquemos fugindo dele; quando
decidimos nos entregar para um relacionamento muitas coisas ocorrem e é exigido
de nós muita coragem.
Em seu livro Mulheres
que Correm com os Lobos, Clarissa Pinkola Estés diz que “O amor tem seu custo. Ele exige coragem”.
Quando somos jovens e
ouvimos as pessoas falando sobre relacionamento logo nos apressamos
a dizer “Ah não, isso não acontecerá comigo. Eu farei diferente”.
Lemos coisas, participamos
de cursos, palestras e treinamentos sobre relacionamento a dois, namoramos,
conhecemos pessoas e achamos que sabemos exatamente o que é conviver a dois.
Lembro-me que na faculdade
de psicologia apresentei um trabalho sobre psicanálise de casal e alguns do
grupo compartilharam um sentimento de que apesar de ser algo bem mais profundo
do que havíamos imaginado, estávamos um pouco mais sábios sobre o assunto.
Tudo o que aprendemos antes
de conviver a dois pode ser bem utilizado durante o relacionamento, mas nada se
compara ao desafio da convivência. As menores coisas ganham um grande
significado, feridas antigas reaparecem, e permanecer juntos e com alegria passa
a ser uma meta que exigirá mais que amor.
Particularmente acredito no
amor e no relacionamento a dois. Penso que através deles temos a oportunidade de crescer enquanto pessoas e também de vivermos a nossa individuação de uma forma singular.
No capítulo 5 do livro Mulheres que correm com os lobos a autora conta a estória da Mulher Esqueleto. Esta é certamente uma estória muito interessante que faz uma analogia inteligente sobre a natureza de vida-morte-vida do amor.
Em poucas palavras, este termo
vida-morte-vida fala, também, sobre
resiliência, sobre ser capaz de encarar que em um relacionamento a dois as coisas nascem, morrem e renascem
de uma forma diferente e este processo pode causar dor. É a dinâmica da vida. Para
que as relações mantenham-se saudáveis e coisas novas aconteçam outras precisam
morrer para transformarem-se.
A autora diz:
“O
amor não significa um flerte ou uma procura de mero prazer para o ego, mas um
vínculo visível composto da força psíquica da resistência, uma união que
prevalece na fartura e na austeridade, que passa pelos dias e noites mais
simples e mais complicados”.
“Existem, porém, exigências para esse tipo de união. A fim de criar esse amor duradouro, convida-se mais um parceiro para a união. Esse terceiro é a Mulher-Esqueleto. Ela é também chamada de A Morte e, nesse sentido, ela é a natureza da vida-morte-vida num dos seus muitos disfarces. Nessa sua apresentação, A Morte não é um mal, mas uma divindade”.
A convivência a dois é um
desafio, é algo grande, algo que exigirá de cada um dos parceiros aprendizagem,
vontade, coragem e outras coisas mais.
Mas ainda assim é algo
maravilhoso. Algo que nos convida a nos conhecer, nos modificar e encarar a
parte mais profunda do nosso ser, que guarda a escuridão que amedronta mas
também nossa fonte de luz mais radiante.
Termino com outro trecho do
livro Mulheres que correm com os lobos:
“Às vezes não existem palavras que estimulem a
coragem. Às vezes é preciso simplesmente mergulhar. Tem de haver em algum ponto
da vida de um homem um período em que ele confie na direção que o amor o levar,
em que ele tenha mais medo de ficar confinado a algum leito rachado do rio seco
da psique do que de estar solto num território exuberante porém inexplorado”.
"Às vezes aquele que está fugindo da natureza da vida-morte-vida insiste em pensar que o amor é apenas uma dádiva. No entanto, o amor em sua plenitude é uma série de mortes e de renascimentos. Deixamos uma fase, um aspecto do amor, e entramos em outra. A paixão morre e volta. A dor é espantada para longe e vem à tona mais adiante. Amar significa abraçar e ao mesmo tempo suportar inúmeros finais e inúmeros recomeços - todos no mesmo relacionamento".